COLOSANTI, Marina - O espinho de marfim e outras histórias, fiz um bico, e hummm, tesc, tesc... será?
Titubiei, não dava pra folhear, estava plastificado. A sinopse não diz nada interessante.
Olhei verso – anverso – a capa mostra um unicórnio suspenso em duas patas, e claro, um cintilante chifre de marfim, na beira de um penhasco verdejante.
Na outra mão – O assassinato sem rosto - de Simenon. Nunca tive um trisco de dúvida entre um policial e um romance. Jamais!
Porém, ouvi dizer que ultimamente ando precisando de mais doçura, (òÓ), credo! Mais romantismo... Sabe? Nem eu?
Mas tá, conselho dado, conselho recebido, conselho arquivado!
Catei os dois exemplares... Cheguei ao caixa o cara me olhou com uma cara estranha e perguntou:
- Você vai ler mesmo?
- Ahm? Retruquei com um sorriso!
- Tô perguntando se você vai ler mesmo esse livro de morte... Ah, esse combina mais com você – falou apontado para o outro exemplar - Um romance, você tem uma carinha de quem gosta de romance.
- Você acha?
- Não tenho dúvidas...
Fiquei tão intrigada com isso. Os dedos tilintavam no balcão do guichê enquanto as compras passavam pelo leitor de código de barras.
O ‘caixa’ estendeu mão e lhe entreguei os livros.
- Posso perguntar? O que difere as meninas que gostam de romance das que gostam de livros mais dramáticos?
- Ah, isso é fácil, as meninas que lêem romance são muito mais dóceis, mais meigas... As outras querem parecer intelectuais, são mais excêntricas e um tanto rudes, na aparência são menos discretas. Eu diria isso apenas olhando pro seu rosto:
1-Primeiro pela cor do seu batom – levemente rosado, quase imperceptível, não fosse o brilho do gloss;
2- Bochechas levemente rosadas e olhos suavemente marcados – sem nenhum exagero, mas sempre com algum destaque!
3- A franja lateral – nada daquele exagero EMO que encobre os olhos. A maneira como arruma os cabelos na lateral dá um ar charmoso e doce.
4 – A cor dos cabelos, castanho, mas com uns fios cobreados e outros loiros, de muito bom gosto... sem no meio termo, moderninha, mas conservadora. O ar tímido misturado ao despojado.
5 – Os brincos: a argola é pequena e tem um coração, uma estrela e vários strasses. (Cheguei a tocar na orelha, nem sabia qual brinco estava usando!), só os motivos cravados na prata se encarregam de conferir mais um ponto a minha intuição. Não chega a ser infantil, mas não peca no exagero, comum por aí!
6 – O colar, bem delicado e com uma rosa. De muito bom gosto – prata, broze e dourada!, nem pequena, nem grande – um tamanho ideal.
7 – Tudo se encaixa harmoniosamente com os olhos castanhos, e a pele clarinha. Pasma?
- É... não com a detalhada análise, mas com a conclusão dos fatos.
- Débito ou crédito?
Digitei a senha, sorri e agradeci.
A outra me diz que ando meio rude com a vida e o cara em menos de 5 minutos me coloca num retrato rosa e branco.
De fato quem vê cara não vê coração! A descrição foi ótima, mas meu coração é inteirinho do Connan Doyle, da Cristie, do Poe...
Ah, li primeiro o romance – gostei de alguns contos. Ela é uma boa contista. Comecei o Maigret – vamos ver... nada parecido com o inspirador Connan Doyle!
